ESG e Economia Circular: fatores estratégicos para as empresas

Relatório realizado como parte do Processo Trainee 2025.2, no qual se estabelece a relação entre ESG e economia circular, trazendo os conceitos e exemplificando com as boas práticas da Natura.

Alice Centurion, Isadora Glavam e Pedro Verdicchio

11/3/20254 min read

ESG é a sigla em inglês para Environmental, Social and Governance - ou Ambiental, Social e Governança - e refere-se a um conjunto de critérios não-financeiros usados para avaliar o desempenho e os riscos de uma empresa em relação ao meio ambiente, às relações sociais e às práticas de governança corporativa.

O ideal do ESG surgiu em 2004, a partir do relatório Who Cares Wins, que foi produzido pelo Pacto Global da ONU em parcerias com instituições financeiras internacionais. Esse documento escancarou a necessidade de se integrar fatores socioambientais e de governança nas tomadas de decisões de investimento, transformando o conceito ESG em um marco, em decorrência de sua alta usabilidade e importância na orientação de práticas empresariais responsáveis.

ESG e Economia Circular

Fatores estratégicos para as empresas

Nos contextos atuais, o ESG consolida-se como referência mundial no quesito avaliação de oportunidades e riscos, ampliando assim a noção de desempenho corporativo para além dos resultados financeiros, mas trazendo juntamente o viés de tomada de decisões sustentável. Nos fatores circunstanciais de aumento da consciência socioambiental dos consumidores, diversas crises climáticas e as demandas crescentes por pressões regulatórias, impulsionam assim a adoção dessas práticas, que se tornam sinônimo de legitimidade e competitividade no mercado global.

Apesar de ser considerado um conceito orientador, o ESG enfrenta diversos desafios e críticas em sua aplicação prática. Tais impedimentos são, o risco constante de “greenwashing”, no momento em que empresas utilizam o discurso sustentável apenas como uma estratégia de marketing, sem mudanças reais em seus processos, criando uma imagem ambientalmente responsável que não corresponde à realidade.

Outro quesito apontado é a falta de padronização de métricas globais, implicando em uma dificuldade de comparação entre setores e organizações. No entanto, a pressão crescente de órgãos reguladores, investidores e consumidores, vem impulsionando a busca por uma maior transparência e na criação de indicadores objetivos, tornando assim o ESG não apenas uma tendência, mas um critério substancial no quesito de credibilidade e acesso aos mercados.

A incorporação da economia circular ao escopo do ESG representa não apenas uma evolução conceitual, mas uma resposta estratégica às contradições do modelo linear de produção e consumo que marcou a industrialização. Enquanto os critérios ambientais do ESG orientam as empresas a mensurarem emissões, uso de recursos e gestão de resíduos, a economia circular oferece um caminho operacional concreto para reduzir impactos. Isso ocorre ao priorizar o redesenho de produtos, a extensão do ciclo de vida, o reuso e a logística reversa.

Essa integração amplia também os pilares social e de governança, ao criar cadeias produtivas locais, gerar empregos mais qualificados e exigir mecanismos robustos de transparência e rastreabilidade para monitorar fluxos de materiais. Assim, o ESG fornece a estrutura de governança e métricas que tornam visíveis os ganhos de circularidade, enquanto a economia circular transforma os compromissos em prática tangível, reduzindo riscos, abrindo novas fontes de receita e convertendo a sustentabilidade em vantagem competitiva. Ao articular esses dois conceitos, as empresas deixam de ver sustentabilidade como um custo periférico e passam a tratá-la como um vetor central de inovação e resiliência organizacional.

A Natura exemplifica como a economia circular pode ser incorporada de forma consistente aos modelos dos negócios por meio de iniciativas de logística reversa e inovação em embalagens. Com o programa “Recicle com Natura”, a empresa disponibiliza pontos de coleta em diversas cidades brasileiras, incentivando consumidores a devolver embalagens vazias para que sejam reaproveitadas na cadeia produtiva. Esses materiais são encaminhados a cooperativas de catadores parceiras, que realizam a triagem e a reciclagem, o que promove inclusão social e geração de renda, evidenciando a intersecção da sustentabilidade e responsabilidade social.

Além de estimular o retorno das embalagens, a Natura investe continuamente no redesenho de seus produtos, priorizando insumos renováveis e desenvolvendo formatos que facilitem o reuso e a reciclagem, reduzindo assim a pressão sobre os recursos naturais. Essa prática não se limita a uma questão operacional, mas reflete uma escolha estratégica que coloca a circularidade como parte central de sua governança corporativa. Ao monitorar fluxos de materiais, divulgar compromissos e envolver todos os participantes do processo, como consumidores, cooperativas e representantes da marca, a empresa reforça a transparência e a governança exigida pelo ESG.

Ainda que o desafio de ampliar a circularidade seja constante, a Natura demonstra como é possível integrar inovação e engajamento social alinhada a uma abordagem que concilia resultados econômicos com responsabilidade socioambiental. Nesse sentido, a atuação da Natura demonstra que a sustentabilidade não é um custo adicional, mas sim um fator estratégico capaz de promover inovação e reforçar a capacidade da empresa de se adaptar a desafios e mudanças, orientando a transição da empresa de modelos lineares de produção para práticas mais circulares e sustentáveis.

Créditos da Imagem

Feito por Fernando Castro/Jornal da USP

Referências

Bibliográficas

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